quinta-feira, março 10, 2011

Conversa de Duas Crianças

— E aí, véio?

— Beleza, cara?

— Ah, mais ou menos. Ando meio chateado com algumas coisas.

— Quer conversar sobre isso?

— É a minha mãe. Sei lá, ela anda falando umas coisas estranhas, me botando um terror, sabe?

— Como assim?

— Por exemplo: há alguns dias, antes de dormir, ela veio com um papo doido aí. Mandou eu dormir logo senão uma tal de Cuca ia vir me pegar. Mas eu nem sei quem é essa Cuca, pô. O que eu fiz pra essa mina querer me pegar? Você me conhece desde que eu nasci, já me viu mexer com alguém?

— Nunca.

— Pois é. Mas o pior veio depois. O papo doido continuou. Minha mãe disse que quando a tal da Cuca viesse, eu ia estar sozinho, porque meu pai tinha ido pra roça e minha mãe passear. Mas tipo, o que meu pai foi fazer na roça? E mais: como minha mãe foi passear se eu tava vendo ela ali na minha frente? Será que eu sou adotado, cara?

— Como assim, véio?

— Pô, ela deixou bem claro que a minha mãe tinha ido passear. Então ela não é minha mãe. Se meu pai foi na casa da vizinha, vai ver eles dois tão de caso. Ele passou lá, pegou ela e os dois foram passear. É isso, cara. Eu sou filho da vizinha. Só pode!

— Calma, maninho. Você tá nervoso e não pode tirar conclusões precipitadas.

— Sei lá. Por um lado pode até ser melhor assim, viu? Fiquei sabendo de umas coisas estranhas sobre a minha mãe.

— Tipo o quê?

— Ela me contou um dia desses que pegou um pau e atirou em um gato. Assim, do nada. Maldade, meu! Vê se isso é coisa que se faça com o bichano!

— Caramba! Mas por que ela fez isso?

— Pra matar o gato. Pura maldade mesmo. Mas parece que o gato não morreu.

— Ainda bem. Pô, sua mãe é perturbada, cara.

— E sabe a Francisca ali da esquina?

— A Dona Chica? Sei sim.

— Parece que ela tava junto na hora e não fez nada. Só ficou lá, paradona, admirada vendo o gato berrar de dor.

— Putz grila. Esses adultos às vezes fazem cada coisa que não dá pra entender.

— Pois é. Vai ver é até melhor ela não ser minha mãe mesmo... Ela me contou isso de boa, cantando, sabe? Como se estivesse feliz por ter feito essa selvageria. Um absurdo. E eu percebo também que ela não gosta muito de mim. Esses dias ela ficou tentando me assustar, fazendo um monte de careta. Eu não achei legal, né. Aí ela começou a falar que ia chamar um boi com cara preta pra me levar embora.

— Nossa, véio. Com certeza ela não é sua mãe. Nunca que uma mãe ia fazer isso com o filho.

— Mas é ruim saber que o casamento deles não está dando certo... Um dia ela me contou que lá no bosque do final da rua mora um cara, que eu imagino que deva ser muito bonitão, porque ela chama ele de 'Anjo'. E ela disse que o tal do Anjo roubou o coração dela. Ela até falou um dia que se fosse a dona da rua, mandava colocar ladrilho em tudo, só pra ele passar desfilando e tal.

— Nossa, que casamento bagunçado esse. Era melhor separar logo.  

— É. só sei que tô cansado desses papos doidos dela, sabe? Às vezes ela fala algumas coisas sem sentido nenhum. Ontem mesmo, ela disse que a vizinha cria perereca na gaiola... já viu... essa rua só tem doido...

— Ixi, cara. Mas a vizinha não é sua mãe?

— É mesmo! Tô ferrado de qualquer jeito.

terça-feira, março 01, 2011

Viva!

     A idéia desse texto é um pensamento furtado. Bem, na verdade, Eu fiz, mas vale ressaltar que os sentimentos impostos nele talvez não sejam meus. Roubei ele de um astrólogo, que viu a sua estrela mais querida perder a luz, aos poucos, se alastrando pelo universo. Bem, não exatamente isso, mas a idéia é a mesma. Rs. 

" (...) Hoje eu acordei mais esperançosa.
Lembrei de nós dois, de quando a gente foi naquele sítio afastado da cidade, num final de tarde, e assim que o crepúsculo nos cumprimentou, você me abraçou bem forte, como se estivesse com uma saudade danada, e disse bem baixinho no meu ouvido: "Agora deixamos de ser dois, e nos tornamos um." Nossa, não tem palavras que expliquem aquele momento, lembro que na hora até me arrepiei de emoção. Você, com aquele jeitão de moleque, me cativou num estalar de dedos, e eu, sem perceber, me deixei levar por toda aquela situação.
Distraída, me envolvi naquele sentimento. Recebi com os braços abertos, dei meu coração, minha vida. Nos unimos de corpo e alma, sem medo de ser feliz. Por amor nos unimos e de amor vivemos..."

     Nem tudo é perfeito, sempre há aquele porém para atrapalhar nossas vidas insistentemente. A verdade é que meu melhor amor sofre de um mal terrível que contamina todo o seu corpo, machucando-o, destruindo-o, num frenesi voraz. Mais rápido do que pude amá-lo, mais rápido do que os médicos possam curá-lo.
     E pensar que eu acreditava que câncer era coisa de cinema, de livros, que não nos  levava à ruína, em si.
     Câncer é todo o sofrimento do mundo reunido num só corpo, é  toda aquela dor que demonstramos nos olhos quando algo muito ruim nos atinge, é morrer sem deixar de respirar, é sentir as lágrimas descendo em memória dos dias não vividos. É a saudade de algo que não foi sentido, é um paraplégico imbutido, sem a esperança de se recuperar, sem a chance de poder viver, mesmo estando vivo.

     "(...) Meu amor é uma vítima de uma doença maligna. Eu odeio isso, odeio essa situação. Maldito seja o câncer que se abriga nos mais preciosos corações!
    Sinto muita dor, compartilho tudo o que ele sente. Sinto não só pelo meu amor, mas também pela vida de todas aquelas crianças que vi sofrerem tanto quanto ele, por todos aqueles adultos inespressivos que abrem os olhos toda manhã mais por obrigação do que por vontade, por todas aquelas mães e pais que ali estão, presenciando a vida do próprio filho dissipar-se pelo corpo lentamente..."
  
Pior do que a morte, é respirar sem vontade de viver, sem esperanças para sobreviver.

     "(...) Hoje, confesso que estou um tanto que perdida. Estava pronta para me entregar à pessoa que mais amo no mundo, estava pronta para chamá-la de minha, e agora estou aqui, sozinha numa casa cheia das nossas lembranças, triste, sem ânimo para nada.
     A única coisa que eu espero, é que ele parta dessa para uma bem melhor. Amo-o. Anseio por mais um abraço apaixonado, como aquele do sítio... antes tudo fosse um sonho e, quando acordasse, estaria ao lado do meu melhor amor.
     A única coisa que posso dizer é:
Vá e viva a vida, aproveite o máximo dos seus dias. Ame infinitamente!
Sofro pela futura partida do meu amor, mas sei que vivi o mais puro amor, sei que aproveitei ao máximo. VIVA!
     Pior do que se arrepender do que fez, é arrepender-se por não ter feito o que tinha vontade de fazer!"

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